Eu vivo no Século XXI e nele vou morrer.
Muitos anos já se passaram do “tempo que sobre a terra me foi concedido”
E não me inscrevi em lugar nenhum... nada plantei, nada semeei.
A finitude me atormenta: não assistirei à pane da “grande máquina”.
Meu País já participa de “um, vírgula alguma coisa por cento”
do comércio mundial e, pelos cálculos de especialistas,
chegará ao nível socioeconômico dos países ditos desenvolvidos.
Em 350 anos.
Os especialistas não disseram que mundo vai sobrar para consumo
dos atuais excluídos do mercado tecnológico.
O planeta não aguenta mais 350 anos de Halliburton...
Não haverá mais ar condicionado em 350 anos.
Em 350 anos não haverá monstruosas geleiras na Patagônia.
Leio jornal.
Pela TV eu vi a guerra gringa devastar o Iraque,
- A guerra é sem fim... –
Sou cidadã espectadora.
A globalização não me trouxe felicidade.
Faço análise e tenho depressão
- com quem será que meu analista faz análise? –
Estou envelhecendo.
A velhice nos torna invisíveis e sem dentes,
a memória falha.
Refaço todas as manhãs o mesmo caminho,
Repito todos os dias a mesma tarefa de Sísifo.
Mas ainda tenho alguns poucos e insignificantes prazeres,
como cuspir em frente à Embaixada dos Estados Unidos.
Sinto saudades da velha árvore onde minha infância dormia.