Argentina X Alemanha
A derrota da Argentina na final da Copa foi mais
difícil para mim do que a derrota que o Brasil sofreu da Alemanha. É claro que
não se pode dizer que aquele gol do Götze, quase ao final do segundo tempo da
prorrogação, tenha sido um lance de sorte, pois o futebol que a Alemanha
mostrou nessa Copa foi um senhor futebol. Acontece que a Argentina fez um
belíssimo jogo. Merecia ganhar. Se ganhasse, ninguém poderia dizer que foi por
acaso. Poderia ganhar, porque revelou estatura de time campeão e proporcionou,
ombro a ombro com a Alemanha, um tremendo espetáculo de bola. Houve lances em
que a vitória ficou muito próxima dos argentinos. Para mim, é inegável que nosso
vizinho equilibrou a partida. Houve momentos em que dominou mesmo. Mas, enfim,
a Alemanha não perdeu a oportunidade que surgiu naquela hora em que tudo indicava
que a vitória chegaria da disputa por pênaltis. Veio um cruzamento de esquerda
e esse foi o minuto de ouro não desperdiçado, o momento bem aproveitado. O
verso filosófico – ou a filosofia poética – de Horácio posto em prática, “colhe
o dia”. Dessa vez, a bola entrou. Poderia não ter entrado. Oportunidades
melhores apareceram antes e nem assim a bola havia entrado. Klose, aos 35 do
segundo tempo, tinha chutado de frente para o gol e a bola não havia entrado.
Dessa vez, com Götze no lugar de Klose, a brazuca encontrou o caminho. Foi
dramático. A bola ainda foi parar no pé de Lionel Messi para a última cobrança
de falta. Subiu demais... Nem sei se subiu, o fato é que não entrou. Resultado,
a Argentina perdeu. Perdeu, sim, mas não fracassou. Podem até dizer que as duas
palavras são sinônimas, mas, para mim, são diferentes em modo e em intensidade.
Com licença dos entendidos, tanto no idioma quanto no futebol, explico a
diferença. Perder é uma possibilidade entre duas, numa disputa justa entre bons
adversários. Fracassar é carregar o peso da entrega. A Argentina não se
entregou, apenas perdeu para o time de melhor preparo técnico, como todos
dizem. Essa é a grande lição que a Argentina dá no dia de hoje, lutar
bravamente pela vitória. Não foi fácil para a Alemanha bater o time de Messi. A
matemática do placar não diz outra coisa. Foi por um gol, um, nada mais. A
outra bela lição é da Alemanha, claro. Os alemães não exibiram o futebol de
“um” craque, mas o futebol de uma verdadeira equipe. De minha parte, fiquei
triste com a derrota da Argentina. Queria que a taça não cruzasse o Atlântico,
queria que ficasse desse lado do planeta. Ninguém manda no coração do
torcedor...
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