sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


A última flor da terra
(Para o Carlos)

Quem vive o amanhecer do teu dia claro,
Quando o sol reparte as folhas das castanheiras
E desce pela estrada no mar azul do horizonte,
Quem bebe do teu beijo sorrindo
Como bebe o vinho da romã vermelha
E abre os olhos em tuas mãos macias,
Quem anoitece ao teu lado e adormece e sonha
Na calmaria branca dos travesseiros,
Quem ouve teu choro dentro da noite escura
E conhece todos os teus medos,
Quem te escuta contar a lenda do besouro verde
Quando tua alma retorna à floresta espessa de onde vieste,
Quem está contigo enquanto o tempo da velhice chega
E a morte cega vagueia por entre as névoas cinzas do caminho etéreo.

A quem clareias no amanhecer do teu dia,
Quando o sol se deita sobre as castanheiras
E atravessa as águas de um longínquo mar vermelho,
Quem bebe do teu vinho abundante
Como bebe o beijo macio da romã branca
E abre as mãos ao teu olhar-sorriso,
Quem adormece a teu lado e anoitece calma
No sonho azul dos travesseiros.
Quem escuta teu medo dentro de teu choro
E conhece o breu das noites que atravessas,
Quem te ouve contar a lenda da floresta,
Quando se liberta o besouro verde de tua alma,
Quem está contigo enquanto a morte cinza chega
E o tempo da velhice espreita por entre as névoas da cegueira eterna.

Ouve, amor,
Ouve a música de tuas cordas roucas,
Vê, essa mulher sou eu,
Na primeira noite ela dança sob a luz da lua cheia,
Segue os tambores selvagens da tribo primitiva,
Desaparecida entre o cetim lilás que cobre tua memória,
Ela já foi bela,
Um dia foi atriz,
Hoje é tenaz e louca,
Na segunda noite ela canta e delira e queima os cabelos no fogo de uma febre alta.
O amanhã traz teu amor de volta...
...E não é pouco.
Cumpre aceitar e estar feliz de novo.
Ontem perdeu tuas sementes em solo estéril,
Mas ainda há tempo de salvar a última flor da terra...

(Beatriz, em 12 de janeiro de 2011)


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