quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ainda temos cachaça

Onde estão nossos heróis, com seus helicópteros, aqueles mesmos que subiram o morro do Alemão, agora que os pobres do Rio de Janeiro morrem com a chuva? Não temos ação de salvamento. Nem perdemos tempo com isso. (É um absurdo pensar que poderíamos ter algum plano a ser executado! Ora, são as forças da natureza, simplesmente. Nos conformemos com a vontade de Deus!) Há câmeras e luz, mas nenhuma ação, só desespero. E espera. Nenhum herói aparece. Ninguém acode ao pedido de socorro, ninguém pinta a cara para a guerra, não há glória, não há glamour, não há nada. Tudo vira silêncio. Tudo vira discurso. Não temos armas contra o turbilhão. Podemos prevê-lo, podemos saber onde ele vai devastar, mas não temos dinheiro para prevenir a catástrofe – o dinheiro vai para a guerra. Podemos apenas consentir que a catastrófe continue fazendo suas vítimas longe dos shopping centers, longe das vitrines elegantes, longe da festa do consumo. Não há defesa civil, não há força de segurança nacional nessa hora.Tudo vira água. A água leva os desamparados e devolve seus cadáveres. O de sempre... pobre morrendo. O lucro vai para as funerárias e os coveiros não têm pá suficiente para cavar tanto. Ainda temos cachaça! O Estado intervem com abundância de recursos e tecnologia bélica para exterminar traficantes pobres, mas não existe Estado para salvar a pobreza da catástrofe das chuvas... crônica desde sempre anunciada, que poderia não existir, ao menos não nas circunstâncias e na proporção que se vê agora, ou que poderia não fazer tantas vítimas, se houvesse um mínimo de preocupação com as condições de habitação das pessoas e respeito ao meio ambiente. Temos dinheiro para matar, mas não temos dinheiro para a vida. Até quando vamos apostar na política pública da morte, na política da exclusão da vida? Esse é o nosso projeto de segurança pública? Ele serve ao morador do barraco? Segurança pública não tem nada a ver com qualidade de vida da população? Até quando vamos admitir a barbárie? Onde estão, agora, os nossos heróis? O carnaval está chegando. Temos olimpíadas e futebol e novela... Tiririca no Congresso, a mulher do Michel Temer desfilando em Brasília, os bancos continuam lucrando, novo Big Brother. Tudo não passa de mais um espetáculo. Ah! Como somos felizes! Brasileiros, bem vindos a 2011!



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