Mais do mesmo...
Beatriz Vargas Ramos
A receita econômica inspiradora da PEC 55 não é novidade. Corte de
gastos primários e austeridade são remédios que já foram testados pela União
Europeia e quase mataram o paciente - como agora admite o próprio FMI. O
governo Temer, apesar disso, insiste em tratar a economia brasileira com essas
mesmas drogas, repetindo insistentemente o mesmo bordão: o corte de gastos
públicos atrai a confiança dos investidores, estimula os gastos privados e
coloca a economia "nos trilhos" - expressão usada por Temer em pessoa na última propaganda
governista promovida pelo Roda Viva, na TV Cultura. Desde 2015, ainda no
governo Dilma, já estamos cortando gastos e investimentos públicos. Não está
dando certo. Apesar da intensidade da crise, a proposta agora é aprofundar essa
política equivocada, sob o argumento de que os cortes não foram suficientes -
algo do tipo "se o remédio não fez efeito é porque a dose não foi
suficiente". A PEC 55 se propõe a triplicar a dose por 20 anos. O "paciente"
- a economia real brasileira - não deu sinais de melhora, indicador importante
de que o remédio não faz efeito, mas a expectativa de cura é forte. Com base na
expectativa, apesar de descolada da realidade econômica real, a equipe
"médica" aposta em mais do mesmo. O diagnóstico está fundado na
crença de que a cura da doença se baseia na boa expectativa (fé no resultado) e
não nos sintomas do doente. Tem tudo para dar errado. Se não é o diagnóstico -
e principalmente o prognóstico - que orienta o tratamento, o que explica a
insistência de mais do mesmo? A resposta não é difícil: é a cegueira provocada
pela partidarização da discussão. Nesse meio tempo, o paciente, cuja doença
apenas se agravou, pode ir ao óbito. Como diz Laura Carvalho: "Os crentes
não admitem que as expectativas possam estar contaminadas pela retórica
política, e que, sendo esse o caso, a economia não necessariamente vai
obedecê-las". Os economistas de Temer estão mais para curandeiros do que
para médicos de verdade. Ou barramos a PEC 55 ou já podemos encomendar a missa
de sétimo dia.
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