domingo, 12 de setembro de 2010

Poemeto chavão
ou
“Deu na coluna social”
ou
- vida e morte da socialite -

Foi ao dentista
combinar tratamento
de clareamento dentário.
Foi ao cinema,
perdeu o horário.
Mudou-se pra Paris.
Cansou-se de Ipanema.
Fez plástica no nariz.

Desalentada,
usou botox.
Revigorada,
vestiu Twiggy,
usou Channel.
Trocou de carro,
trocou de amante.
Desamparada,
comprou outro anel
de diamante.

Pediu arrego,
pediu champagne e escargot.
Apavorada,
correu do pivete.
Estressada,
foi descansar
em Fontainebleau.
Na Dinamarca,
foi ver Hamlet,
em Côte d'Azur,
se apaixonou.
Perdeu a cabeça.
Tomou Bromazepam,
Anfepramona,
Propanolol.

Evitou carne vermelha
e exposição ao sol:
tinha paura
de ficar com a pele escura.

Depositou nas Bahamas
e em Liechtenstein.
Foi ao casamento de Lady Dy.
Comprou lentes de contato azuis.
Fez terapia holística,
análise transcendental,
aromaterapia e
mapa astral.
Esquiou na Suíça.
Voltou a malhar.
Pôs unha postiça.
Parou de fumar.
Foi à Flórida,
ao shopping,
deu brunch.

Deu chá beneficente,
deu cheque ao “Fome Zero”,
gorjeta pro porteiro,
dinheiro para as obras
do cemitério
judeu.
Deu
o cu
pro motorista.
Posou pra revista
Com um Picasso
Que arrematou no leilão.
Fez turismo social
pra combater a depressão.
Comprou TV de plasma,
iPOD e computador
na Apple Store da Daslu.
Amou a Deus
sobre todas as coisas
e ao Loulou,
da Pomerânia,
como a si mesma.
Pintou o cabelo.
Foi ao clube de mulheres.
Trocou os móveis
do apartamento
de Nova Iorque.
Pegou um vôo pro Japão,
que deu pane em Parintins.
Mandou ajuda
financeira
às vítimas do furacão
de New Orleans.
Nem republicana, nem democrata,
viu da janela a passeata.

Reciclou.
Deletou.
Ejetou.
Injetou.
Viajou.
Sonegou.
Contrabandeou.

Amarrotou
o tailler.
Quebrou
o cristal.
Derramou
o caviar.

Morreu no sofá,
assistindo Big Brother:
um copo de Chivas na mão.

Achava chic
a filosofia.
E apesar das ações
jamais teve paciência
para entender a ciência da economia.

Não gostava de política.
Três casamentos,
dois divórcios
e autocrítica.
Servia os melhores jantares.
Foi “garota verão”.
Hare-krishna,
mas trocou os avatares
para estudar nos States.
Desfilou na Sapucaí,
se inspirou na biografia
de Bill Gates.
Escreveu livro
sobre etiqueta
no estilo Tamborindeguy.
Era una chica
plástica
de esas que van por ahi”.
Acalentou o sonho
de chegar à Academia.
Herdou fortuna da tia.

Tinha blog,
tinha charm,
600 pares de sapatos.
Pedra: green gold.
Perfume: Dolce & Gabbana.

Morreu de tédio.
Vestindo robe de seda,
usando salto.
É “out” morrer no asfalto.
É “in” morrer num prédio
de Copacabana.

(Esse poemeto eu fiz em 2006 e, de lá para cá, já mexi nele umas tantas vezes. Prometo a mim mesma que não mexo mais. Beatriz Vargas, a autora)

Um comentário:

  1. Bia, como que eu não sabia que vc tinha blog ainda?? ADOREI!!! quase morri de rir!!
    Beijos,
    LU

    ResponderExcluir